sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Fidel Castro comenta os resultados de Copenhage

A mudança climática já está causando considerável dano e centenas de milhões de pobres estão sofrendo as conseqüências. Os centros de pesquisas mais avançados asseguram que resta muito pouco tempo para evitar uma catástrofe irreversível. James Hansen, do Instituto Goddard da NASA, assegura que um nível de 350 partes do dióxido de carbono por milhão é ainda tolerável; hoje, no entanto, o nível ultrapassa a cifra de 390 e aumenta cerca de 2 partes por milhão cada ano, ultrapassando os níveis de há 600 mil anos. As últimas duas décadas foram, cada uma delas, as mais calorosas desde que se têm notícias do registro. O mencionado gás aumentou 80 partes por milhão nos últimos 150 anos.

O gelo do Mar Ártico, a enorme capa de dois quilômetros de espessura que cobre a Groenlândia, as glaciais da América do Sul que nutrem suas fontes principais de água doce, o volume colossal que cobre a Antártida, a capa que diminui do Kilimanjaro, os gelos que cobrem o Himalaia e a enorme massa gelada da Sibéria estão derretendo visivelmente. Cientistas notáveis temem saltos quantitativos nestes fenômenos naturais que originam a mudança.

A humanidade pôs grandes esperanças na Cúpula de Copenhague, depois do Protocolo de Quioto assinado em 1997, que entrou em vigor o ano 2005. O estrondoso fracasso da Cúpula deu lugar a vergonhosos episódios que requerem o devido esclarecimento.

Os Estados Unidos, com menos de 5% da população mundial, emite 25% do dióxido de carbono. O novo presidente de Estados Unidos tinha prometido cooperar com o esforço internacional para enfrentar um problema que afeta tanto esse país como o resto do mundo. Durante as reuniões prévias à Cúpula, ficou evidente que os dirigentes dessa nação e os dirigentes dos países mais ricos manobravam para fazer cair o peso dos sacrifícios sobre os países emergentes e pobres.

Grande número de líderes e milhares de representantes dos movimentos sociais e instituições científicas decididos a lutar por preservar a humanidade do maior risco de sua história, acudiram a Copenhague, convidados pelos organizadores da Cúpula. Eximo-me de referir a detalhes sobre a brutalidade da polícia dinamarquesa, que atacou contra milhares de manifestantes e convidados dos movimentos sociais e cientistas, e me concentro nos aspectos políticos da Cúpula.

Em Copenhague reinou um verdadeiro caos e aconteceram coisas incríveis. Não foi permitido que os movimentos sociais e instituições científicas assistissem aos debates. Houve chefes de Estado e governo que não puderam sequer emitir suas opiniões sobre problemas centrais. Obama e os líderes dos países mais ricos se apossaram da conferência com a cumplicidade do governo dinamarquês. Os organismos das Nações Unidas foram relegados.

Barack Obama, que chegou no último dia da Cúpula para permanecer ali só 12 horas, se reuniu com dois grupos de convidados escolhidos “a dedo ” por ele e seus colaboradores. Junto de um deles se reuniu na sala do plenário com o resto das mais altas delegações. Fez uso da palavra e foi embora imediatamente pela porta traseira. Nesse plenário, exceto o pequeno grupo selecionado por ele, foi proibido aos demais representantes dos Estados fazer uso da palavra. Nessa reunião, os presidentes da Bolívia e da Venezuela puderam falar, porque ao Presidente da Cúpula não restou outra alternativa que conceder-lhes o uso da palavra, ante o apelo enérgico dos presentes.

Em outra sala contígua, Obama reuniu os líderes dos países mais ricos, vários dos Estados emergentes mais importantes e dois muito pobres. Apresentou um documento, negociou com dois ou três dos países mais importantes, ignorou a Assembléia Geral das Nações Unidas, ofereceu entrevistas coletivas, e se marchou como Julio César em uma de suas campanhas vitoriosas na Ásia Menor, que o levou a exclamar: Cheguei, vi e venci.

O próprio Gordon Brown, Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha, tinha afirmado no dia 19 de outubro: “Se não entramos em um acordo no curso dos próximos meses, não devemos ter dúvida alguma que, uma vez que o crescimento não controlado das emissões tenha provocado danos, nenhum acordo global retrospectivo em algum momento do futuro poderá desfazer tais efeitos. Para isso então será irremediavelmente tarde.”

Brown concluiu seu discurso com dramáticas palavras: “Não podemos dar-nos o luxo de fracassar. Se fracassamos agora, pagaremos um preço muito alto. Se atuamos agora, se atuamos de conjunto, se atuamos com visão e determinação, o sucesso em Copenhague estará ainda a nosso alcance. Mas se fracassamos, o planeta Terra estará em perigo, e para o planeta não existe um Plano B. ”
Mas declarou com arrogância que a Organização das Nações Unidas não deve ser tomada como refém por um pequeno grupo de países como Cuba, Venezuela, Bolívia, aNicarágua e Tuvalu, ao mesmo tempo em que acusa a China, a Índia, o Brasil, a África do Sul e outros Estados emergentes de ceder às seduções dos Estados Unidos para assinar um documento que lança ao cesto de lixo o Protocolo de Quioto, que não contém compromisso vinculativo algum por parte de Estados Unidos e seus aliados ricos.

Sou obrigado a lembrar que a Organização das Nações Unidas nasceu há apenas seis décadas, depois da última Guerra Mundial. Os países independentes não ultrapassavam então a cifra de 50. Hoje a integram mais de 190 Estados independentes, depois que o odioso sistema colonial deixou de existir pela luta decidida dos povos. À própria República Popular da China durante muitos anos foi negada sua participação na ONU, e um governo títere ostentava sua representação nessa instituição no seu privilegiado Conselho de Segurança.

O apoio tenaz do crescente número de países do Terceiro Mundo foi indispensável no reconhecimento internacional da China, e um fator de grande importância para que os Estados Unidos e seus aliados da OTAN reconhecessem seus direitos na Organização das Nações Unidas.

Na heróica luta contra o fascismo, a União Soviética realizou a maior contribuição. Mais de 25 milhões de seus filhos morreram, e uma enorme destruição assolou o país. Dessa luta emergiu como superpotência capaz de dar o contrapeso em relação ao domínio absoluto do sistema imperial dos Estados Unidos e as antigas potências coloniais para o saque ilimitado dos povos do Terceiro Mundo. Quando a URSS se desintegrou, os Estados Unidos estendeu seu poder político e militar para o Leste, até o coração da Rússia, e sua influência sobre o resto da Europa aumentou. Não há novidade no que aconteceu agora em Copenhague.

Desejo sublinhar o que há de injusto e ultrajante nas declarações do primeiro-ministro da Grã-Bretanha e na tentativa ianque de impor, como acordo da Cúpula, um documento que em nenhum momento foi discutido com os países participantes.

O Chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez, na coletiva de imprensa oferecida no dia 21 de dezembro, afirmou uma verdade que é impossível negar; empregarei alguns de seus parágrafos textuais: “Gostaria de enfatizar que em Copenhague não houve acordo algum da Conferência das Partes, não se tomou nenhuma decisão com relação a compromissos vinculativos ou não vinculativos, ou de natureza de Direito Internacional, em modo algum; simplesmente, em Copenhague não houve acordo”
“A Cúpula foi um fracasso e um engano à opinião pública mundial. [...] ficou nítida a falta de vontade política…”

“…foi um passo atrás na ação da comunidade internacional para prevenir ou mitigar os efeitos da mudança climática…”

“…a média da temperatura mundial poderia aumentar em 5 graus…”
De imediato nosso Chanceler acrescenta outros dados de interesse sobre as possíveis conseqüências de acordo às últimas investigações da ciência.
“…desde o Protocolo de Quioto até o momento as emissões dos países desenvolvidos se elevaram 12,8%… e desse volume 55% corresponde aos Estados Unidos.”

“Um norte-americano consome, em média, 25 barris de petróleo anuais, um europeu 11, um cidadão chinês menos de dois, e um latino-americano ou caribenho, menos de um. ”

“Trinta países, incluídos os da União Européia, consomem 80% do combustível que se produz”. O fato é que os países desenvolvidos que assinaram o Protocolo de Quioto aumentaram drasticamente suas emissões. Querem substituir agora a base adotada das emissões a partir de 1990 com a do ano 2005, com o qual os Estados Unidos, o máximo emissor, reduziria a só 3% suas emissões de 25 anos antes. É uma desavergonhada burla à opinião mundial.

O Chanceler cubano, falando em nome de um grupo de países da ALBA, defendeu a China, a Índia, o Brasil, a África do Sul e outros importantes Estados de economia emergente, afirmando o conceito alcançado em Quioto de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas, quer dizer que os acumuladores históricos e os países desenvolvidos, que são os responsáveis desta catástrofe, têm responsabilidades diferentes às dos pequenos Estados insulanos ou às dos países do Sul, sobretudo os países menos desenvolvidos…”

“Responsabilidades quer dizer financiamento; responsabilidades quer dizer transferência de tecnologia em condições aceitáveis, e então Obama faz um jogo de palavras, e em vez de falar de responsabilidades comuns, mas diferenciadas, fala de ‘respostas comuns, mas diferenciadas'.” “abandona o plenário sem dignar-se a escutar a ninguém, nem tinha escutado a ninguém antes de sua intervenção.”
Em uma coletiva de imprensa posterior, antes de abandonar a capital dinamarquesa, Obama afirma: “ Produzimos um importante acordo sem precedente aqui em Copenhague. Pela primeira vez na história, as maiores economias viemos juntas para aceitar responsabilidades”.

Na sua clara e irrebatível exposição, nosso Chanceler afirma: “Que quer dizer isso que ‘as maiores economias viemos juntas para aceitar responsabilidades'? Quer dizer que estão descarregando um importante peso da carga do financiamento para a mitigação e a adaptação dos países sobretudo do Sul à mudança climática, sobre a China, o Brasil, a Índia e a África do Sul; porque é preciso dizer que em Copenhague aconteceu um assalto, um assalto contra a China, o Brasil, a Índia, a África do Sul e contra todos os países chamados eufemisticamente em desenvolvimento.”

Estas foram as palavras contundentes e irrebatíveis com as quais nosso Chanceler relata o sucedido em Copenhague.

Devo acrescentar que, quando às 10 da manhã do dia 19 de dezembro nosso vice-presidente Esteban Lazo e o Chanceler cubano tinham ido embora, se produziu a tentativa tardia de ressuscitar o morto de Copenhague, com um acordo da Cúpula. Nesse momento não estava lá praticamente nenhum chefe de Estado nem mesmo ministros. De novo a denúncia dos membros das delegações de Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua e outros países derrotaram a manobra. Assim finalizou a ingloriosa Cúpula.

Outro fato que não se pode esquecer foi que nos momentos mais críticos desse dia, já de madrugada, o chanceler de Cuba, em união das delegações que travaram sua digna batalha, ofereceram ao Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, sua cooperação na luta cada vez mais dura, e nos esforços que devem ser levados a cabo no futuro para preservar a vida de nossa espécie.
O grupo ecológico Fundo Mundial para a Natureza (WWF) advertiu que a mudança climática ficaria fora de controle nos próximos 5 a 10 anos, se não forem diminuídas drasticamente as emissões.

Mas não é necessário demonstrar o essencial do que aqui se afirma sobre o que fez Obama.

O Presidente de Estados Unidos declarou na quarta-feira 23 de dezembro que as pessoas têm razão em estar decepcionadas pelo resultado da Cúpula sobre a Mudança Climática. Em entrevista pela corrente de televisão CBS, o governante indicou que “‘em vez de ver um total colapso, sem que tivesse feito nada, ou que tivesse sido um gigante retrocesso, pelo menos pudemos manter-nos mais ou menos onde estávamos'…”

Obama – afirma a agência de notícias - é o mais criticado por aqueles países que, de forma quase unânime, sentem que o resultado da Cúpula foi desastroso.

A ONU agora está em um aperto. Pedir a outros países que adiram ao arrogante e antidemocrático acordo seria humilhante para muitos Estados.

Continuar a batalha e exigir em todas as reuniões, particularmente as de Bonn e do México, o direito da humanidade a existir, com a moral e a força que nos outorga a verdade, é, no nosso julgamento, o único caminho.

Um comentário:

  1. Está aí um cara que não deveria nunca morrer, Fidel Castro. Houve somente um homem na política com maior envargadura que este, Josef Stalin...

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